quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Guerra fria

Guerra Fria aconteceu entre 1947 e 1991 e marcou a polarização do mundo em dois blocos: um liderado pelos americanos e outro pelos soviéticos. Essa polarização gerou um conflito político-ideológico entre as duas nações e seus respectivos blocos, cada qual defendendo os seus interesses e a sua ideologia.
A Guerra Fria nunca gerou um conflito armado direto entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), mas o conflito de interesses entre os dois países resultou em conflitos armados ao redor do mundo e em uma disputa que ocorreu em diversos níveis como a economia, a diplomacia, a tecnologia etc.

O que causou o início da Guerra Fria?

O discurso de Harry Truman, em 1947, marcou o início da Guerra Fria.
O discurso de Harry Truman, em 1947, marcou o início da Guerra Fria.
A Guerra Fria foi iniciada logo após a Segunda Guerra Mundial, conflito que aconteceu entre 1939 e 1945. Ao final desse conflito, EUA e URSS saíram como as duas grandes potências mundiais e essa situação contribuiu para o surgimento de um cenário de polarização. O início da rivalidade entre americanos e soviéticos no pós-guerra é debatido pelos historiadores.
Considera-se que a Guerra Fria iniciou-se por meio de um discurso realizado por Harry Truman, no Congresso americano, em 1947. Nesse discurso, o presidente americano solicitava verba para combater o avanço do comunismo na Europa e alegava que era papel do governo americano combater o avanço da influência soviética.
Com isso, iniciou-se a Doutrina Truman, ideologia que englobou as medidas realizadas pelo governo americano para conter o avanço do comunismo na Europa. Uma das etapas dessa doutrina foi o Plano Marshall, o plano de recuperação da Europa destruída pela guerra. O objetivo desse plano era aumentar a influência americana na Europa, e os soviéticos percebendo isso proibiram os países de seu bloco a aderirem ao Plano Marshall.
O discurso praticado pela Doutrina Truman utilizava de um discurso alarmista que colocava o governo soviético como um governo expansionista. O governo americano, no entanto, sabia que a postura dos soviéticos era uma postura defensiva, porque o país estava destruído pela guerra e buscava garantir seus interesses apenas na sua zona de influência.
Além disso, outro ponto importante é que as dificuldades econômicas que os países europeus enfrentariam no pós-guerra poderiam abrir espaço para o avanço do comunismo e isso preocupava os americanos. Assim, os americanos desenvolveram um discurso maniqueísta, que foi responsável por polarizar a relação entre as duas nações.
Os soviéticos, que, a princípio, interessavam-se apenas em garantir o controle sobre sua zona de influência, acabaram incorporando o discurso maniqueísta, o que concretizou a polarização que marcou a Guerra Fria.

Características

Dentre as características da Guerra Fria (1947-1991), destacam-se:
  • Polarização: por meio de dois blocos, um sob influência americana e outro sob influência soviética, foi a grande marca da Guerra Fria. Com isso, americanos e soviéticos possuíam uma retórica agressiva contra seu adversário e tinham aliados estratégicos. Houve uma tentativa de alguns países de realizarem uma política externa independente, sem que fosse necessário aliarem-se a algum dos dois países.
  • Corrida armamentista: a disputa entre as duas nações e a procura por mostrar-se como força hegemônica motivaram ambos a investirem pesadamente no desenvolvimento de armas de destruição em massa, as bombas nucleares e termonucleares.
  • Corrida espacial: a disputa entre as duas nações manifestou-se também na área tecnológica e, entre 1957 e 1975, concentrou-se na exploração do espaço.
  • Interferência estrangeira: os dois países realizaram, ao longo dos anos de Guerra Fria, uma série de interferências em nações estrangeiras como forma de garantir seus interesses. O Brasil, por exemplo, foi alvo disso quando os americanos apoiaram o golpe militar de 1964.

Acontecimentos mais importantes da Guerra Fria

A tensão gerada pela Guerra Fria repercutiu de inúmeras maneiras no mundo ao longo da história humana. Destacaremos algumas informações desses acontecimentos abaixo:
  • Revolução Chinesa

A China foi um dos locais influenciados pela ideologia comunista e, desde a década de 1920, o país vivia uma guerra civil travada por nacionalistas (apoiados pelo EUA) e comunistas (apoiados pela URSS). Depois do fim da 2ª Guerra, a guerra civil retomou, e os comunistas conseguiram se impor e conquistaram o poder do país em 1949. O avanço do comunismo pela China alarmou os americanos e fez com que pesados investimentos dos EUA fossem destinados a locais como Japão e Coreia do Sul.
  • Guerra da Coreia

A Guerra da Coreia foi travada entre 1950 e 1953 e contou com o envolvimento de soldados americanos e soviéticos.
A Guerra da Coreia foi travada entre 1950 e 1953 e contou com o envolvimento de soldados americanos e soviéticos.
Esse foi o primeiro grande conflito, depois da Segunda Guerra Mundial, e aconteceu entre 1950 e 1953. Esse conflito foi resultado da divisão da Península da Coreia, feita por americanos e soviéticos, em 1945. O norte, governado por comunistas, e o sul, governado por um governo capitalista.
A tensão desenvolvida entre os dois lados, entre 1945 e 1950, levou os norte-coreanos a invadirem a Coreia do Sul. O objetivo era reunificar a Coreia sob um governo comunista. Os soviéticos participaram do conflito às escondidas, e os americanos entraram no conflito já em 1950. O conflito foi encerrado sem vencedores e a península permanece dividida até hoje.
  • Crise dos Mísseis em Cuba

Na década de 1960, os olhos do mundo se voltavam para uma pequena ilha centro-americana que, por meio de uma revolução armada, derrubou a hegemonia política dos EUA na América Latina. Naquele período, a ilha de Cuba se tornou um enorme atrativo político capaz de instigar o temor e a admiração de muitos políticos. Para os EUA, aquela situação representava uma séria ameaça aos seus interesses econômicos, políticos e ideológicos.

Não por acaso, as autoridades norte-americanas buscaram todas as formas para conter a consolidação do Estado revolucionário cubano. Sem obter uma resposta favorável, o presidente John F. Kennedy decidiu, no início de 1961, findar as relações diplomáticas com o governo cubano. Alguns meses depois, organizou um grupo de soldados cubanos e estadunidenses para derrubar o governo de Fidel Castro por meio de uma invasão à Baía dos Porcos.

O chamado “Ataque à Baía dos Porcos” acabou não surtindo o efeito esperado e o insucesso daquela manobra militar poderia representar sérios riscos para os interesses dos EUA. Após esse incidente, Fidel Castro se aproximou do bloco socialista promovendo um intenso diálogo com o presidente russo Nikita Kruschev. Dessa nova aliança, nasceu um plano que materializou uma das maiores crises políticas da Guerra Fria.

Segundo relato, no dia 14 de outubro de 1962, um avião de espionagem norte-americano sobrevoou o território cubano em busca de informações sobre o local. Nessa missão, coletou uma série de imagens do que parecia ser uma nova base militar em construção. Após um estudo detalhado das imagens, as autoridades norte-americanas descobriram que os soviéticos estavam instalando diversos mísseis capazes de carregar ogivas nucleares em Cuba.

Pela primeira vez, os norte-americanos sentiram-se ameaçados pelos horrores das mesmas armas que protagonizaram o ataque nuclear de Hiroshima e Nagasaki. Para alguns analistas, a ousadia da manobra militar cubano-soviética poderia dar início a uma nova guerra em escala mundial. Dessa forma, entre os dias 16 e 29 de outubro daquele mesmo ano, foi iniciada uma delicada rodada de negociações que deveria conter a ameaça de uma guerra nuclear.

Após um intenso diálogo, marcado inclusive com uma reunião entre Kennedy e Kruschev, os soviéticos decidiram retirar todos aqueles mísseis apontados para a nação-líder do bloco capitalista. Na verdade, a possibilidade de guerra era impossível, já que ambos os lados tinham um poder bélico de destruição capaz de aniquilar completamente o inimigo. Depois disso, acordos proibindo a proliferação de armas nucleares foram assinados pelas lideranças socialistas e capitalistas.
  • Guerra do Vietnã

Guerra do Vietnã, iniciada em 1959 e estendida até 1975, foi o enfrentamento entre o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul, ambos lutando pela unificação do país sob seu domínio. O conflito no Vietnã contou, a partir de 1965, com participação ativa do exército dos Estados Unidos, o qual lutou ao lado das tropas do Vietnã do Sul contra as forças do Vietnã do Norte. A atuação americana nessa guerra fez parte de sua política de contenção do comunismo em nível internacional durante o período da Guerra Fria.

Pré-guerra
A Guerra do Vietnã é considerada pelos historiadores um desdobramento direto da guerra travada na década de 1950, na região, pela independência e contra o domínio colonial francês. O Vietnã, juntamente de Camboja e Laos, formou durante décadas a Indochina Francesa e, após a Segunda Guerra Mundial, viu o poder colonial francês ser enfraquecido. O resultado desse conflito foi a consolidação do fim do poder francês na região com a independência de Vietnã, Laos e Camboja.
No caso do Vietnã, a independência aconteceu de maneira mais complexa, pois o país estava dividido em duas grandes forças antagônicas. Essa divisão foi ratificada na Conferência de Genebra, em 1954, em que foi estipulado que o Vietnã do Norte teria como capital Hanói e seria governado pelos comunistas de Ho Chi Minh e o Vietnã do Sul, com capital em Saigon, seria governado por Bao Dai, aliado dos Estados Unidos.
Apesar da divisão existente, na mesma Conferência de Genebra, determinou-se a realização de eleições livres para formar um governo que promovesse a unificação dos países. No entanto, a escalada da tensão entre as duas partes e as diferenças ideológicas fizeram com que o governo do Vietnã do Sul recusasse a realização dessas eleições.
Tanto o governo do Norte quanto o Vietnã do Sul apresentavam posturas ditatoriais e repressivas. O Norte, por exemplo, promovia “julgamentos sumários, fuzilamentos em massa e confinamentos em campos de trabalho forçado”|1|, enquanto o sul desenvolvia um governo extremamente corrupto e ditatorial, que impôs perseguição a dissidentes e suspeitos de adesão ao comunismo.
A partir de 1955, esses governos desenvolveram campanhas um contra o outro, além de aliarem-se a potências internacionais que poderiam dar-lhes suporte em caso de conflito. O Vietnã do Norte passou a contar com o apoio da União Soviética, e o Vietnã do Sul foi apoiado pelos Estados Unidos. A crescente tensão precipitou pequenos conflitos entre as tropas das duas forças, o que conferiu ares de guerra civil a partir de 1959.

Participação americana na guerra
Durante os primeiros anos do conflito, os Estados Unidos não se envolveram diretamente e mantiveram sua atuação apenas no fornecimento de armas e na ação de conselheiros norte-americanos que preparavam as tropas do Vietnã do Sul para as batalhas. Apesar do apoio estadunidense, as tropas vietcongues (nome usado em referência aos vietnamitas comunistas do Norte) levavam a vantagem no conflito.
O governo de Diem, que estava no poder desde 1955, passou por um forte enfraquecimento e enfrentou inúmeros protestos no Vietnã do Sul. Isso levou os Estados Unidos a apoiarem conspirações internas que articularam o golpe e a execução de Diem em 1963. Pouco tempo depois, o assassinato do presidente americano John F. Kennedy fez com que os Estados Unidos assumissem nova postura no conflito.
Com a morte de Kennedy, o vice, Lyndon Johnson, ocupou a presidência dos Estados Unidos e, durante o seu governo, o país passou a atuar diretamente no conflito com o envio de tropas. A entrada dos norte-americanos no conflito aconteceu após o Incidente do Golfo de Tonquim. Nesse incidente, a embarcação USS Maddox foi supostamente atacada duas vezes por torpedeiros norte-vietnamitas (o segundo ataque nunca foi comprovado). Isso foi utilizado como pretexto por Lyndon Johnson para autorizar o ataque ao Vietnã do Norte e o envio de tropas.
A entrada dos Estados Unidos na guerra motivou o envio de 184 mil soldados ao final de 1965. Esse número cresceu gradativamente nos anos seguintes, chegando a 429 mil soldados, em 1966, e 543 mil em abril de 1969|2|. A presença estadunidense no conflito também promoveu intensos bombardeios no Vietnã e nos vizinhos Camboja e Laos.
A participação dos Estados Unidos na guerra, no entanto, não conseguiu a derrota das forças vietcongues. Utilizando-se do conhecimento geográfico das matas e de táticas de guerrilha, os vietcongues tornaram as batalhas desgastantes para as forças norte-americanas. Além disso, o uso de armamentos, como as bombas incendiárias Napalm, os ataques contra civis e o grande número de norte-americanos mortos no conflito impulsionaram uma campanha na imprensa dos EUA pela saída do país do conflito.
Essas pressões da sociedade e da imprensa americana levaram o presidente Richard Nixon a assinar um cessar-fogo e, em 1973, concluiu a retirada de todas as tropas americanas do Vietnã. Sem esse apoio, o Vietnã do Sul não conseguiu conter as tropas comunistas, e, em 1975, os vietcongues conquistaram a cidade de Saigon e realizaram a unificação do Vietnã sob comando dos comunistas em 1976.
Estima-se que, em decorrência desse conflito, os Estados Unidos tiveram por volta de 58 mil baixas, enquanto os exércitos do Vietnã do Sul sofreram cerca de 225 mil baixas e os exércitos do Vietnã do Norte perderam 1,1 milhão de soldados|3|.
  • Guerra do Afeganistão de 1979

Esse é o conhecido “Vietnã dos soviéticos”. Os soviéticos invadiram o Afeganistão, em 1979, em apoio do governo comunista daquele país contra os rebeldes fundamentalistas islâmicos que atuavam, sobretudo, no interior afegão. Ao longo de dez anos de conflito, os soviéticos lutaram em vão contra as forças rebeldes. Exauridos economicamente, os soviéticos retiraram-se do Afeganistão, em 1989.
  • Alemanha na Guerra Fria

A Alemanha foi um local de extrema importância durante a Guerra Fria, porque ali a polarização manifestou-se de forma intensa. O país foi dividido em zonas de influência, no fim da 2ª Guerra, e elas resultaram no surgimento de duas Alemanhas: a Alemanha Ocidental, aliada dos EUA, e a Alemanha Oriental, aliada da URSS.
Essa divisão também foi refletida em Berlim que, a partir de 1961, foi dividida por um muro construído pelo governo da Alemanha Oriental, em parceria com a União Soviética. Os comunistas queriam colocar fim a evasão de população da Alemanha Oriental para Berlim Ocidental. O Muro de Berlim permaneceu de pé por 28 anos e foi o símbolo da polarização causada pela Guerra Fria.

Cooperação política e militar

Ao longo dos anos da Guerra Fria, americanos e soviéticos procuraram garantir sua influência sobre seu bloco e para isso criaram grupos que realizaram a cooperação econômica, política e militar entre seus aliados.
  • Plano Marshall e Comecon: o Plano Marshall, como citado, foi criado pelos EUA para financiar a reconstrução da Europa e conter o avanço do comunismo. Os soviéticos, em represália, criaram o Conselho para Assistência Econômica Mútua, o Comecon, que garantia apoio econômico aos países do bloco comunista.
  • Otan e Pacto de Varsóvia: a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) foi criado como uma aliança militar entre os países alinhados aos Estados Unidos, em 1949. O Pacto de Varsóvia, por sua vez, criado em 1955, visava a garantir a segurança dos países do bloco comunista.

Fim da Guerra Fria

A abertura da URSS aconteceu durante o governo de Mikhail Gorbachev.**
A abertura da URSS aconteceu durante o governo de Mikhail Gorbachev.**
A partir da década de 1970, a economia da União Soviética começou a entrar em crise. A crise foi resultado da falta de ações do governo soviético para dinamizar a economia do país, que já demonstrava estar em atraso tecnológico e econômico em relação às grandes potências mundiais, e os indicadores sociais do país começaram a cair.
A disparada no valor do petróleo criou um clima de falsa prosperidade, que impediu que reformas na economia soviética acontecessem. O envolvimento do país na Guerra do Afeganistão e o acidente nuclear que aconteceu em Chernobyl, em 1986, contribuíram para o fim da URSS, pois impuseram pesados gastos a um país com uma economia já fragilizada.
O último presidente soviético, Mikhail Gorbachev, começou a realizar reformas (Glasnost e Perestroika) de abertura do país para o Ocidente, sobretudo na economia, e essas levaram ao desmantelamento da União Soviética. Quando Gorbachev renunciou, em 25 de dezembro de 1991, a URSS foi dissolvida e isso marcou o fim da Guerra Fria.

Durante a Guerra Fria, URSS e EUA disputaram a hegemonia mundial.
Durante a Guerra Fria, URSS e EUA disputaram a hegemonia mundial.UA disputaram a hegemonia mundial.