domingo, 29 de abril de 2018

Exegese textual sobre Marcos 7:19

Marcos 7:15 – “Nada há fora do homem que, entrando nele o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina.”
Olá, aqui vão algumas considerações sobre o texto de Marcos 7:19 – “Porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E assim considerou ele puros todos os alimentos.”
O objetivo deste trabalho é esclarecer certas afirmações bíblicas, que por serem mal interpretadas, são usadas em defesa de ensinamentos não sancionados pelas Escrituras Sagradas.
Para uma boa compreensão deste assunto três princípios hermenêuticos devem ser relembrados:
1º) A Bíblia deve ser seu próprio intérprete.
2º) O contexto quase sempre ajuda a explicar o texto.
3º) Colocar os fatos narrados em sua moldura histórica.
Para chegarmos ao exato sentido do que Cristo quis dizer com a frase:
“Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar;” e a declaração de Marcos – “e assim considerou ele puros todos os alimentos”, precisamos analisar outras passagens bíblicas, que nos esclarecerão sobre o exato significado destas afirmativas. As duas mais significativas seriam:
a) A experiência de Pedro em Atos 10;
b) Os esclarecimentos paulinos em Romanos 14.
Estaria Cristo com esta declaração anulando ensinamentos do Velho Testamento? A classificação dos animais em limpos e imundos agora deixaria de existir?
Peçamos a Deus que nos esclareça a mente, para entendermos com clareza os sábios ensinamentos da Sua Palavra.

Comentários Gerais

I. A Experiência de Pedro com Cornélio.
Lucas nos relata a experiência com certa pessoa de destacada posição social, da cidade de Cesaréia, chamada Cornélio. São salientados os predicados que ornavam seu caráter: piedosa e temente a Deus com toda a sua casa, dava muitas esmolas aos necessitados e de continuo orava a Deus. Apesar destes atributos, ele necessitava da orientação divina, para melhor compreender o seu plano para conosco. Foi esta a razão que ao estar orando um anjo lhe indicou que devia chamar a Pedro para lhe dar nova orientação.
Cristo, conhecendo que Pedro não estava preparado para este mister, deu-lhe a visão do terraço, na hora sexta (para nós ao meio-dia). Sendo a hora da refeição ele estava com fome e ao estar esta sendo preparada, ele viu o céu aberto, do qual descia algo como um grande lençol, repleto de animais próprios e impróprios para a alimentação, Neste ínterim, ele ouve aquelas tradicionais palavras: “Levanta-te, Pedro; mata e come” (Atos 10:13). Mas ele replicou com decisão e firmeza: “De modo nenhum, Senhor, porque jamais comi coisa alguma comum e imunda.” (10:14). A voz treplica: “Ao que Deus purificou não consideres comum.” (10:15).
O relato sem levar em consideração o contexto, e a interpretação através do conjunto das Escrituras, pode significar que não há alimentos imundos, já que Deus a todos purificou, porém, todos sabemos, que através desta visão, Deus queria ensinar a Pedro a não fazer distinção entre pessoas. Terminada a visão, ao Pedro estar reflexionando sobre seu exato significado, aproximam-se os mensageiros de Cornélio com o inusitado convite pana que fosse a sua casa. Iluminado pelo Espírito Santo ele compreendeu o exato significado da visão.
Esta experiência de Pedro nos científica de que ele teria recusado seguir àqueles gentios, se a visão não lhe tivesse sido dada. A visão nos mostra ainda, que Deus se utiliza de processos os mais variados, para nos ensinar suas preciosas lições.
A finalidade primordial da visão foi ensinar-lhe que não deveria considerar a nenhum homem comum ou imundo, pois todos são dignos de receber a salvação, Nada neste relato tem a ver com a classificação bíblica de animais próprios e impróprios para nossa alimentação.
II. O Problema de Consciência de Romanos 14.
Romanos 14 aparece na Tradução Revista e Atualizada no Brasil com o título: “A Tolerância para com os Fracos na Fé”. Aqueles que se opõem aos adventistas julgam encontrar em Romanos 14 poderosa escora para derribar a distinção bíblica entre animais limpos e imundos e a observância do sétimo dia.
O renomado estudioso W. Rand em seu Dicionario de la Santa Biblia, pág. 560 afirma:
“Segundo se depreende da própria epístola, o motivo que teve Paulo para escrevê-la foram as desinteligências que surgiam entre os conversos judeus e os conversos gentios, não somente em Roma, mas em todas as partes. O judeu, quanto aos seus privilégios, sentia-se superior ao gentio, o qual por sua vez, não reconhecia tal superioridade, e se sentia desgostoso quando tal se lhe afirmava.”
Conforme o terceiro princípio hermenêutico anteriormente citado seria bom destacar:
Com a expansão do cristianismo pela Ásia Menor e Europa, o evangelho foi aceito por gentios e judeus. Os judeus, mesmo após a sua aceitação do cristianismo, conservavam resquícios da tradição judaica e princípios da lei cerimonial.
O Comentário Adventista diz:
“De fato, os primeiros cristãos não foram solicitados a deixarem repentinamente de comparecer às festas judaicas anuais ou repudiarem de imediato, todos os ritos cerimoniais. . . O próprio Paulo, após sua conversão, esteve em muitas festas, e conquanto ensinasse que a circuncisão nada era, circuncidou a Timóteo, e concordou em fazer um voto de acordo com estipulações do Antigo Código.”
Além da inoportunidade destas festas e cerimônias dos judeus, o que mais agravava este estado de coisas, era o fato dos judaizantes quererem impor aos gentios estas observâncias. Os gentios não as aceitavam, com isso os judeus se irritavam, tornando o ambiente carregado e comprometedor para a causa do evangelho. Dentre estas pendências, destacava-se a carne sacrificada aos ídolos pelos pagãos. Após seu oferecimento a Júpiter, Mercúrio, Diana e a outros deuses mitológicos esta carne (bovina) era vendida, a preço módico, aos açougueiros, que a colocavam com as outras carnes que vendiam. Os judaizantes eram totalmente contrários à compra de carne no açougue, pelo fato de não saberem se ela tinha ou não sido oferecida aos ídolos. Os cristãos gentios não eram tão escrupulosos e criam que o oferecimento da carne aos ídolos não a contaminava.
O SDABC tecendo considerações sobre Romanos 14:1, acentua:
Débil na fé – Isto é, aquele que tinha limitada compreensão dos princípios da justiça, ansioso por salvar-se e disposto a fazer tudo quanto cria que dele se exigia. Contudo na imaturidade de sua experiência cristã e provavelmente em decorrência de sua crença e educação anteriores, ele procurava assegurar salvação pela observância de certos preceitos e regulamentos, que na realidade não se exigiam dele. Para ele tais preceitos assumiam a maior importância. Julgava-os absolutamente necessários à salvação, e ficava escandalizado e confuso, ao ver outros cristãos ao seu redor, sem dúvida mais amadurecidos e experientes, que não partilhavam destes escrúpulos.”
Com respeito às carnes sacrificadas aos ídolos, quem as julgasse imundas, não as deveria comer, embora não devesse julgar aquele que assim o fizesse.
I Cor. 8 trata do mesmo assunto e a sua leitura nos é mais elucidativa sobre este problema. O ponto capital, tanto em Rom. 14 e I Cor. 8 é concluir que não havia mal nenhum em comer carne sacrificada aos ídolos, mas se isto escandalizasse os irmãos fracos era melhor evitar.
Paulo não visa com estes relatos, determinar que espécie de alimento deve ser ingerido pelos cristãos, como uma exegese errada poderia mostrar. O fulcro da questão nada tem a ver com regime alimentar como todos os comentaristas reconhecem, mas simplesmente um problema de consciência. Em outras palavras, recomenda que aquele que é fraco na fé não deve ser desprezado pelos demais membros da igreja, mas sim tratado com o mesmo amor cristão.
O exegeta Charles R. Erdman em seu Comentário de Romanos, pág. 153 se expressa desta maneira:
“Aquele que é débil na fé, que não aprende o pleno sentido da salvação pela graça, que pensa que observar certas regras ou preceitos quanto ao alimento ou a ritos religiosas o fará mais aceitável diante de Deus, deve ser recebido na Igreja, contudo, não se deve com ele discutir a respeito desses escrúpulos por ele afagados. Uma pessoa pode admitir que comer ou abster-se de certos alimentos sadios é matéria de indiferença moral; outra pode crer que agradará mais a Deus se apenas se alimentar de legumes.”
Paulo orienta a igreja para o extermínio de partidos, a fim de que a igreja não se dividisse e os dois grupos pudessem viver num espírito de tolerância e harmonia.

Estudo do Contexto de Marcos 7:15 e 19

O evangelista começa o capítulo sete nos informando, que um grupo de fariseus e escribas se aproximou de Cristo para o interrogarem, porque os seus discípulos não seguiam preceitos estabelecidos pela tradição humana.
O Talmud está repleto de regras e regrinhas orientadoras de como o povo judeu devia comportar-se em todas as circunstâncias da vida.
Os discípulos e Seu Mestre orientavam-se por princípios elevados, porque advindos da palavra de Deus, e não por regulamentos humanos, que naquele tempo eram conhecidos como “Lei Oral” e “Tradição dos Anciãos”. Este comportamento díspar fez com que surgissem conflitos entre eles. Por exemplo, uma destas divergências era quanto a lavar as mãos, não por medidas higiênicas, mas como rito cerimonial.
Como bem nos esclarece o comentaristas William Barclay em El Nuevo Testamento, vol. 3, pág. 179:
“Esta era a religião para os fariseus e escribas. Rituais, cerimônias, regras e regulamentações como estas era o que se considerava a essência do serviço de Deus. A religião ética está imersa sob uma massa de tabus, regras e regulamentações.”
A resposta de Cristo é um terrível libelo aos ensinamentos dos homens:
“Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías, a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim, E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens.” Mar. 7:6-8.

A Verdadeira Contaminação

Ao ventilar este ponto negativo, totalmente farisaico, Jesus chamou a multidão para junto de Si e disse: “Ouvi-me, todos vós, e compreendei.” Mar. 7:14.
Cristo lhes ensina o que na realidade contaminava o homem. Através de uma linguagem figurada procurou mostrar-lhes que o verdadeiro objetivo da religião, consistia em libertar o cristianismo do legalismo. Apresentou-lhes o fato de que o coração é a fonte de toda a contaminação. “Nada há, fora do homem, que entrando nele, o possa contaminar, mas o que sai dele, isso é que contamina o homem.” Mar. 7:15.
Não há nenhuma preocupação, neste relato, em apresentar provas de que este alimento é limpo ou impuro, mas apresentar ao povo a necessidade de abandonar doutrinas, que são preceitos dos homens, e seguirem a religião pura ensinada por Cristo.
O Comentário Expositivo do Evangelho Segundo Marcos de J. C. Ryle, pág. 69, consigna:
“A pureza moral não depende de lavar ou deixar de lavar, de manusear ou deixar de manusear, de comer ou deixar de comer como queriam e ensinavam os escribas e fariseus.”
Jesus queria adverti-los de que não valeria nada fazerem tremendos esforços se hão tivessem o verdadeiro Deus. O resultado de lavar as mãos seria inútil, como o próprio Cristo disse, se o coração estivesse inundado de lascívia, de prostituição, furtos, homicídios, adultérios, avareza, malícia, dolo, inveja, soberba e loucura. Mar. 7:21-22.

Purificando Todos os Alimentos

Ao Deus estabelecer o homem na Terra, indicou-lhes precisamente qual deveria ser sua alimentação. O registro divino nos ensina que o homem devia comer os produtos do campo e das árvores, ou seja: grãos, nozes e frutas.
Gênesis 1:29, declara: “E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento.”
Após o dilúvio, pela escassez destes alimentos, permitiu-se ao homem a alimentação cárnea; porém, a Bíblia é bastante clara na distinção entre animais próprios para a alimentação e impróprios para este mister, de conformidade com Levítico 11. Neste capítulo notaremos uma classificação de alimentos aprovados por Deus, isto é, alimentos puros, e também uma série de alimentos considerados imundos. Esta classificação é divina, transmitida a Moisés, para que por seu intermédio o povo de Israel a praticasse e posteriormente todos os que pautassem a sua vida pelos princípios da Palavra de Deus. Como Adventistas do Sétimo Dia, ou israelitas modernos, cremos que esta classificação perdura, basta para isto aceitarmos o propósito divino ao fazer esta distinção e considerarmos a Bíblia como um todo inspirada por Deus.
O contexto geral do capítulo sete de Marcos nos mostra que Jesus não está interessado em falar se esta ou aquela comida é pura ou imunda, mas em ensinar ao povo judeu e a nós como igreja cristã que o essencial é aceitarmos a Bíblia e não o que dizem os homens em suas doutrinas erradas.
O SDABC corrobora as afirmações anteriores ao declarar sobre Marcos 7:15 o seguinte: “Foi sempre, e exclusivamente contra preceitos de homens (v. 7) que Jesus protestou em aguda distinção do mandamento de Deus (v. 8), como se apresenta nas Escrituras. Aplicar os versos 15-23 ao caso de alimentos puros e impuros é ignorar completamente o contexto. Tivesse Jesus nessa ocasião eliminado a distinção entre as carnes limpas e imundas e seria óbvio que Pedro não teria, posteriormente, respondido como respondeu à idéia de comer alimentos impuros.”

“E Assim Considerou Ele Puros Todos os Alimentos”

Esta declaração de Marcos tem sido problemática para copistas, teólogos, exegetas e comentaristas:
Alguns têm declarado que esta afirmação do verso 19, em grego: kayarizon panta ta brwmata – catharidzon panta ta bromata não se encontrava no original de muitos manuscritos, sendo portanto um acréscimo posterior.
O renomado exegeta Bruce M. Metzger, com sua autoridade inquestionável, no livro A Textual Commentary on the Greek New Testament pág. 95 ao tecer considerações sobre este verso declara: o peso esmagador dos manuscritos nos convencem de que esta afirmação foi escrita por Marcos. Diante da dificuldade do verbo purificar, muitos copistas tentaram correções e melhorias. Metzger conclui: Muitos eruditos modernos, seguindo a interpretação sugerida por Orígenes e Crisóstomo consideram o verbo catharidzo, ligado gramaticalmente com “leguei” do verso 18 tomando assim o comentário do evangelista com as implicações das palavras de Jesus concernentes às leis dietéticas judaicas.
Esta mesma idéia é esposada pelo livro Consultoria Doutrinária da Casa Publicadora Brasileira, págs. 130 a 132, das quais destacamos:
“Nalgumas Bíblias a declaração final do versículo 19, parece fazer da instrução de Cristo, com o sentido de que o processo da digestão e eliminação tem o efeito de ‘purificar todos os alimentos’. O texto grego, porém, torna evidente que estas palavras não são de Cristo, mas sim de Marcos, e constituem seu comentário sobre o que Cristo queria dizer. Por conseguinte é necessário interpretar esta expressão sob o aspecto das palavras ‘Então lhes disse’, do versículo 18. Destarte a última frase do versículo 19 rezaria assim:'(Então lhes disse isto), purificando todos os alimentos’ ou ‘considerando puros todos os alimentos’ – a saber, sem levar em consideração se a pessoa que comia realizara ou não a ablução cerimonial preceituada, Era essa a questão em debate (verso 2).
“Em segundo lugar, convém notar que a palavra grega bromata, traduzida por alimentos, significa simplesmente ‘o que se come’, e inclui todas as espécies de alimentos; jamais distingue a carne dos animais de outras espécies de alimentos. Restringir as palavras ‘considerou puros todos os alimentos’ aos alimentos cárneos e inferir que Cristo aboliu a distinção entre as carnes limpas e imundas usadas como alimento (ver Lev. 11), é desconhecer completamente o sentido do texto grego.
“Percebe-se, pois, que o versículo 19 não foi acrescentado, mas que a expressão final deste versículo não foi usada por Cristo, e sim, por Marcos, para indicar que a cerimônia de lavar as mãos várias vezes antes de comer – não por limpeza, mas por formalidade – nada tinha que ver com a salvação. Isto, no entanto, não quer dizer que se deva comer com as mãos sujas, ou que se possam usar todas e quaisquer carnes de animais, mesmo dos que foram proibidos em Lev. 11.”
Outra autoridade, não menos destacada, Marvin R. Vincent, em Word Studies in the New Testament, vol. l, pág. 201, afirma sobre Marcos 7:19:
“Cristo estava enfatizando a verdade de que toda contaminação vem de dentro. Isto era em face das distinções rabínicas entre alimentos limpos e imundos. Cristo declara que a impureza levítica, como o comer sem lavar as mãos, é de pouca importância quando comparada com a impureza moral. Pedro ainda sob a influência dos antigos conceitos, não consegue entender a declaração e pede uma explicação (Mat. 15:15), que Cristo dá nos versos 18-20. As palavras ‘purificando todos os alimentos’, não são de Cristo, mas do evangelho, explicando o significado das palavras de Cristo; a Versão Revisada do Novo Testamento, portanto, traduz corretamente ‘isto ele disse (em itálico), tornando limpos todos os alimentos.’
“Esta era a interpretação de Crisóstomo, que diz em sua homília sobre Mateus: ‘Porém, Marcos diz que ele disse estas coisas tornando puros todos os alimentos.’ Canon Farrar refere-se a uma passagem citada de Gregório Taumaturgo: ‘E o Salvador, que purifica todos os alimentos diz’ . . .”

Conclusão

Nada melhor do que concluir este trabalho, com as oportunas palavras de J. C. Ryle, em seu Comentário Expositiva do Evangelho Segundo Marcos, ao tecer considerações sobre o capítulo sete de Marcos:
“Devemos pedir diariamente o ensino do Espírito Santo, se quisermos adiantar-nos no conhecimento das coisas divinas. Sem o Espírito Santo a inteligência mais robusta e o raciocínio mais vigoroso pouco nos farão adiantar. Na leitura da Bíblia e na atenção que prestamos à pregação da Palavra, tudo depende do espírito com que lemos e ouvimos.
Este estudo foi extraído da Apostila Explicação de Textos Difíceis da Bíblia de Pedro Apolinário. Prof. Irany santos

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Positivismo

positivismo é uma corrente filosófica que surgiu na França no início do século XIX.
Ela defende a ideia de que o conhecimento científico seria a única forma de conhecimento verdadeiro.
A partir desse saber, pode-se explicar coisas práticas, como das leis da física, das relações sociais e da ética.
É notável, no positivismo, duas orientações:
  • a orientação científica, que busca efetivar uma divisão das ciências;
  • a orientação psicológica, uma linha teórica da sociologia, a qual investiga toda a natureza humana verificável.
A corrente positivista promove o culto à ciência, o mundo humano e o materialismo em detrimento da metafísica e do mundo espiritual.

História do Positivismo

O termo positivismo foi utilizado como conceito pela primeira vez para designar o cientificismo enquanto método, pelo filósofo francês, Claude-Henri de Rouvroy, Conde de Saint-Simon (1760-1825).
Porém, será Auguste Comte (1798-1857), seu discípulo, quem irá se apropriar do termo para denominar sua corrente filosófica.
Auguste Comte
Auguste Comte, criador do Positivismo
Sua obra fundamental, o "Curso de Filosofia Positiva", escrito entre 1830 e 1842, é o tratado metodológico positivista.
Vale destacar que Comte viveu no contexto do fim do iluminismo e ascensão do cientificismo, no qual existe a crença de que força do intelecto tudo pode.
Contudo, como morreu alguns anos antes de Darwin publicar “A Origem das Espécies” (1859) e Marx escrever “O Capital” (1867-1894), ele não se influenciou pelas ideias desses autores.
Enquanto doutrina filosófica, sociológica e política, o positivismo tem a Matemática, a Física, a Astronomia, a Química, a Biologia e também a Sociologia como modelos científicos. Isso porque estas se destacam segundo seus valores cumulativos e transculturais.
Por outro lado, podemos dizer que o positivismo é a “romantização da ciência”. Ele deposita sua fé na omnipotência da razão, apesar de estabelecer os valores humanos como diametralmente opostos aos da teologia e a metafísica.
É também uma classificação totalmente cientificista do conhecimento e da ética humana, onde se desconfia da introspecção como meio de se atingir o conhecimento.
Assim, não há objetividade na informação obtida, tal como nos fenômenos não observáveis. Estes seriam inacessível à ciência, uma vez que ela somente se fundamenta em teorias comprovadas por métodos científicos válidos.
Desse modo, a experiência sensível seria a única a produzir dados concretos (positivos), a partir do mundo físico ou material.
A metodologia básica positivista é a observação dos fenômenos. Dela, se privilegia a observação à imaginação dos fatos, desconsiderando completamente todo conhecimento que não possa ser comprovado cientificamente.
Por fim, vale dizer que a ideia-chave do Positivismo Comtiano é a "Lei dos Três Estados", a saber:
  • Teológico, onde o ser humano busca explicação para a realidade por meio de entidades supranaturais;
  • Metafísico, do qual os deuses são substituídos por entidades abstratas, como "o Éter", para explicar a realidade;
  • Positivo da humanidade, donde não se explica o "porquê" das coisas, mas sim o "como", a partir do domínio sobre as leis de causa e efeito.

O Positivismo enquanto Religião

Com a obra “Sistema de Política Positiva” (1851-1854), Auguste Comte criou a Religião da Humanidade, ou a religião positiva. Ela tem a seguintes diretrizes: "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim".
Templo positivista
Capela positivista em Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Desse modo, busca "viver às claras" e "viver para outrem", donde o altruísmo é a palavra de ordem.
Para tanto, a unidade espiritual é estabelecida pela ciência, a religião da humanidade, única capaz de regeneração social e moral.
Essa religião também possuí um "Ser Supremo". Ele seria a "Humanidade Personificada" e sua força emana do conjunto de inteligências convergentes de todas as gerações, passadas, presentes e futuras, as quais irão aperfeiçoar o gênero humano.
É curioso notar que a religião positivista também utilizava símbolos, sinais, estandartes, vestes litúrgicas, dias de santos (grandes tipos humanos), sacramentos e comemorações cívicas com um calendário próprio. O calendário positivista é de base lunar e com 13 meses de 28 dias.

O Positivismo no Brasil

Essa corrente filosófica se espalhou pela Europa durante a segunda metade do século XIX.
Já no Brasil, ela chegará apenas no Século XX, quando as ideias de Comte, serão propagadas pelos pensadores:
  • Miguel Lemos (1854-1917)
  • Teixeira Mendes (1855-1927)
  • Benjamin Constant (1836-1891)
  • Deodoro da Fonseca (1827-1892)
  • Floriano Peixoto (1839 -1895)
  • Tobias Barreto (1839-1889)
  • Silvio Romero (1859-1914)

Curiosidades

  • Existem correntes de outras disciplinas que se denominam "positivistas" sem ter nenhuma relação com o positivismo de Comte.
  • O Positivismo é uma reação radical ao Transcendentalismo Idealista alemão e ao Romantismo.
  • Auguste Comte foi o criador da palavra "altruísmo" para resumir o ideal de sua Nova Religião.
  • Os termos “Ordem e Progresso” na bandeira do Brasil são de inspiração positivista.
  • Os precursores do positivismo na França foram Mostesquieu (1689-1755) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
  • As teorias de Comte foram criticadas pela tradição sociológica e filosófica marxista, especialmente pela Escola de Frankfurt.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Império romano - A queda

Olá amiguinhos do primeiro ano,aqui vão algumas informações que deveram lhe ajudar para estudar para as próximas avaliações que teremos sobre Roma, faça todas as anotações possíveis e bom estudo. Prof. Irany Dicaprio
Queda do Império Romano ou Queda de Roma) foi o processo de declínio do Império Romano do Ocidente, quando ele não conseguiu mais impor seu domínio e seu vasto território foi dividido em várias comunidades políticas sucessoras. O Império Romano perdeu as forças que permitiram-lhe exercer um controle efetivo de grande parte da Europa, do Norte da África e do Oriente Médio.
Historiadores modernos mencionam como fatores que causaram a decadência do Império a eficácia e os números do exército romano, a saúde e os números da população romana, a força da economia, a competência do Imperador, as mudanças religiosas do período e a eficiência da administração civil. A crescente pressão dos "bárbaros", povos que estavam fora da cultura greco-romana, também contribuiu grandemente para o colapso da civilização romana. As razões para a queda são um dos principais temas da historiografia do mundo antigo e fornecem um grande discurso moderno sobre o fracasso do Estadoenquanto entidade política.[1][2]
As datas relevantes incluem o ano de 117 d.C, quando o Império estava em sua maior extensão territorial e à adesão de Diocleciano em 284. A perda territorial considerável e irreversível, no entanto, começou em 376, com uma irrupção em larga escala de godos e outros povos bárbaros. Por 476, quando Odoacro depôs o imperador Rómulo Augusto, o Imperador Romano do Ocidente exercia poder militar, político ou financeiro insignificante e não tinha o controle efetivo sobre os dispersos domínios ocidentais que ainda poderiam ser descritas como romanos.
Os invasores "bárbaros" tinham estabelecido seu próprio domínio na maior parte da área do então Império Ocidental. Apesar da sua legitimidade ter durado muitos séculos e sua influência cultural permanecer até hoje, o Império do Ocidente nunca teve força suficiente para se reerguer. A queda não é o único conceito unificador para esses eventos; o período descrito como a Antiguidade Tardia enfatiza as continuidades culturais ao longo e além do colapso político.

Abordagens históricas[editar | editar código-fonte]

Migrações bárbaras em território romano entre os séculos IV e V
Desde 1776, quando Edward Gibbon publicou o primeiro volume de A História do Declínio e Queda do Império Romano, Declínio e Queda tem sido os temas em torno dos quais grande parte da história do Império Romano foi estruturada. "A partir do século XVIII em diante", escreveu o historiador Glen Bowersock, "temos sido obcecados pela queda: que tem sido valorizada como um arquétipo para cada queda percebida e, portanto, como um símbolo para os nossos próprios medos".[3]

Período de tempo

Saque de Roma em 410, perpetrado pelos visigodos, foi a primeira vez em 800 anos que a capital romana caiu para um inimigo estrangeiro.
Vila romana na Gália saqueada por hunos.
A queda não é o único conceito unificador da decadência da civilização romana; o período descrito como a Antiguidade Tardia enfatiza as continuidades culturais ao longo e além do colapso. A política de controle político centralizado no Ocidente e o poder diminuído do Oriente são universalmente aceitos como fatores preponderantes, mas o tema do declínio foi tomado para cobrir um intervalo de tempo muito mais amplo do que os cem anos a partir de 376. Gibbon começou sua história em 98 e Theodor Mommsenconsiderada a totalidade do período imperial como indigno de inclusão em sua obra vencedora do Prêmio Nobel História de RomaArnold J. Toynbee e James Burkeargumentam que todo o período imperial foi uma constante decadência das instituições fundadas nos tempos republicanos. Como um marcador conveniente para o fim, 476 tem sido o ano usado desde Gibbon, mas outros marcadores incluem a Crise do Terceiro Século, a Travessia do Reno em 406 (ou 405), o saque de Roma em 410 e a morte de Júlio Nepos em 480, que pavimentaram o caminho para a Queda da Nova Roma, em 1453.[4]

Razões

Gibbon deu uma formulação clássica (agora desatualizada) das razões pelas quais o colapso romano aconteceu. Ele começou com uma controvérsia sobre o papel do cristianismo, mas deu grande peso a outras causas de declínio interno e ataques de fora do Império.
Alexander Demandt enumerou 210 teorias diferentes sobre por que Roma caiu e novas ideias surgiram desde então. Os historiadores ainda tentam analisar as razões para a perda de controle político sobre um vasto território (e, como um tema subsidiário, as razões para a sobrevivência do Império Romano do Oriente). Comparações também são feitas com o Império Chinês, o que restabeleceu a sua "Grande Unidade" enquanto o mundo mediterrâneo permaneceu politicamente desunido até o presente.[5][6]

Crescimento do cristianismo

A Conversão de Constantino I por Peter Paul Rubens
  Propagação do cristianismo em 325 d.C.
  Propagação do cristianismo em 600 d.C.

Uma das questões sociológicas muito debatidas ao longo da história é a questão de saber se o cristianismo contribuiu ou não para a queda do Império Romano do OcidenteSanto Agostinho, pensador e religioso cristão do século V, refutava esta conexão. Já Edward Gibbon e David Hume, propagadores da ideologia antirreligiosa do iluminismo no século XVIII, acreditavam nessa conexão. O cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano em 380, com o imperador Teodósio I. O Império Romano do Ocidente cairia cerca de 100 anos depois. Entre os séculos II e III, nos quais o cristianismo ganhou mais adeptos entre os Romanos, o Império começou a sentir os sinais da crise: foi-se diminuindo o número de escravos e ocorreram rebeliões nas províncias, anarquia militar e as invasões bárbaras.
Quando se fala em "sinais da crise" que estariam pretensamente relacionados ao cristianismo, na verdade se fala de um período extremamente conturbado, no qual o Império chegou a estar muito perto da derrocada. Por volta de 285, o imperador Diocleciano salvou o Império Romano do colapso, dando, a ele, um último fôlego. Tudo isso já ocorria numa época em que os cristãos eram somente uma minoria marginalizada. A tentativa de responsabilizar o cristianismo pelos fortes problemas vividos em Roma durante os séculos II e III fica bastante enfraquecida quando se percebe que, mesmo no início do século IV, apenas cinco a sete por cento dos romanos tinham se tornado cristãos; quase todos eles na parte Oriental do império, exatamente o lado que permanecera mais forte e estruturado durante a crise. Além disso, mesmo na época da queda definitiva de Roma, o lado oriental continuava sendo o mais cristianizado. E foi esse lado mais cristão que sobreviveu na forma posteriormente conhecida como Império Bizantino.
Se a Igreja tivera reticências ao serviço militar nos tempos da perseguição, a partir do momento que o império se tornou cristão, passou a considerar um crime grave alguém furtar-se ao seu dever. A pena por deserção no exército era ser queimado a fogo lento. A Igreja tornou-se, então, fervorosamente patriótica e romana a ponto de desgostar um neopagão como o imperador Juliano, o Apóstata, que achava que os cristãos só deviam poder ensinar coisas relacionadas com o cristianismo e não cultura clássica. De certa maneira, a Igreja Católica aumentou a força do império.
Um outro argumento que se apresenta normalmente é que, enquanto o Império pagão fora tolerante, o cristianismo era intolerante, perseguindo pagãos, cristãos considerados heréticos e judeus. Roma, de fato, fora, no início do cristianismo, relativamente tolerante - se perseguira, pontualmente, grupos como os cristãos, fora por motivos muito específicos. A recusa dos cristãos em aceitar o culto da divindade do imperador foi, com toda a probabilidade, a base jurídica das perseguições que se seguiram.[32] A devoção monoteísta dos cristãos e sua rejeição aos rituais tradicionais deram os motivos adicionais.[33] Depois das dificuldades do século III, vários imperadores procuraram centralizar mais o Estado, obter um maior controle dos cidadãos para que, deste modo, fosse mais fácil mobilizar recursos humanos e financeiros para defender o fragilizado império, e unificar o império em torno de uma ideologia. Com Constantino I, o cristianismo obteve esse monopólio.

476: Último Imperador

O imperador Rômulo Augústuloabdica à coroa
Quando o último imperador romano do Ocidente, Rômulo Augusto, foi deposto em 476, por um grupo de mercenários, poucos territórios (e tropas) restavam ao seu serviço. Os comandantes e chefes que tentavam manter o Estado Romano nos últimos anos também eram, na maioria dos casos, de origem bárbara. Só faltava que um decidisse tomar a púrpura, coisa que não sucedeu.
O imperador deposto, Rômulo Augusto, era filho de um general de origem bárbara, Orestes, que havia servido antes a Átila, o Huno, e havia obtido o trono graças ao pai que havia derrubado o último imperador legítimo, Júlio Nepos, que porém manteve sua autoridade sobre a Dalmácia.
Os aliados de Orestes (hérulos e rúgios) depois se desentenderam com seu patrono e, sob as ordens de Odoacro, depuseram Rômulo Augústulo. Observa-se que a deposição do último imperador não foi um acontecimento repentino e que trouxesse mudança social drástica, mas sim foi o resultado de um longo processo que se desenrolava há quase um século.
Convencionou-se esta data como o fim da Antiguidade, mas é provável que poucos naqueles anos considerassem aquele fato como o fim de uma era. Muito diferente, portanto, de outros marcos da história como, por exemplo, a Tomada da Bastilha durante a Revolução Francesa.