sexta-feira, 24 de março de 2017

Uma história de superação

Luiz Cietto


Não dá para falar no Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp sem falar no Professor Doutor Luiz Cietto. Professor Titular da FCM, chegou a Unicamp a convite do então Diretor da Faculdade de Ciências Médicas, Professor Doutor José Aristodemo Pinotti, para tratar da implantação do curso superior de Enfermagem. O Professor Cietto exerceu diversos cargos na Unicamp, tais como, Coordenador do curso de Enfermagem, Chefe do Departamento de Enfermagem, Representante dos Professores Titulares junto ao Conselho Universitário (CONSU) e do Conselho de Administração do Hospital das Clínicas e membro de diversas comissões e subcomissões como a de implantação do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas e a de Legislação e Normas do Conselho de Administração do Hospital das Clínicas, que atuou como presidente.
Hoje trabalha como Professor de Direito no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) e como Advogado militante. Aliás, o Direito é a outra paixão do Professor Cietto. Formado pela Universidade de São Paulo, conciliou sempre as duas profissões. Sua formação em Enfermagem foi na Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha em 1957.
O professor diz em seu depoimento que a persistência é necessária a aqueles que querem ser vencedores. O trabalho realizado pelo Professor Luiz Cietto no decorrer da sua carreira acadêmica espelha as palavras proferidas.

A Enfermagem da FCM

Em 1976 eu era Professor Titular do curso superior de Enfermagem da Universidade de Mogi das Cruzes, onde tive um contato com o professor Pinotti (Professor Doutor José Aristodemo Pinotti, Reitor da Unicamp na Gestão de 19.4.1982 a 18.4.1986 e Diretor da FCM de 1971 a 1972 e de 1976 a 1980) que na ocasião era o Diretor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Nesse contato ele tomou conhecimento do meu currículo. Na ocasião eu já era Livre-Docente e Doutor em Enfermagem e ele se interessou que eu viesse para a Unicamp, visto que o regimento da Universidade previa a implementação de um curso superior de Enfermagem na Faculdade de Ciências Médicas. Na ocasião, aceitei o convite e não havendo uma previsão orçamentária para o momento, o Professor Pinotti conversou com o reitor e ele entendeu que era de interesse da Universidade e o reitor autorizou a admissão como livre-docente, até que houvesse a verba suficiente para abertura do concurso e para uma admissão regular. O Professor Zeferino Vaz, como um homem de grande visão no campo de ensino e no campo do ensino da saúde observou que seria da maior relevância para a Universidade a implantação do curso superior de Enfermagem. Fui contratado e iniciei a organização do curso e a seleção de pessoal para o início do curso. Na ocasião decidimos que iniciaríamos tão logo estivesse pronto este planejamento inicial e iniciou-se a primeira turma de um curso superior em enfermagem em 1978. Naquela ocasião também se decidiu que faríamos um vestibular na própria Universidade, que também participamos da organização e seleção e tivemos uma procura muito boa, uma média de 10 candidatos por vaga. Iniciamos o curso com 30 vagas e a partir daí o curso de desenvolveu. Selecionamos os primeiros professores com base nos profissionais de Enfermagem da própria Unicamp que trabalhavam no Hospital das Clínicas. Lembro-me do José Francisco Filho, que hoje é Doutor em Enfermagem e se aposentou recentemente, convidamos também a Maria Cecília Cardoso Benatti, que também é Doutora em Enfermagem e também se aposentou e vários outros profissionais. Assumimos uma dupla função, não só cuidar da área de ensino de Enfermagem como também da organização do Serviço de Enfermagem do Hospital das Clínicas.
É interessante registrar que nós iniciamos todas essas atividades no prédio da Santa Casa e lá nós tínhamos instalações precárias, algumas enfermarias à disposição para os estágios, pequenas salas, até debaixo de escadas nós tínhamos que nos acomodar, que era o que a Universidade tinha naquela ocasião. As dificuldades eram muito grandes. Havia disputa até por uma máquina de escrever. Lembro-me que a secretária do Diretor da Faculdade disputou comigo uma máquina elétrica que chegou. Lembro-me também que disputei com um dos professores de Cirurgia uma pequena sala que vagou. Era uma disputa por coisas tão pequenas, mas era a situação inicial. Havia uma dedicação muito grande de todos e nós demos oportunidade a todos esses professores, que começaram do zero, para que eles pudessem fazer a sua pós-graduação, a sua preparação para o ensino. Então todos fizeram o mestrado, posteriormente fizeram o doutorado e eu mesmo que já vim para cá com o título de Livre Docente e Doutor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, posteriormente fiz o concurso para Professor Adjunto, a seguir fiz o concurso para Professor Titular, concorri e fui então aprovado com a nota máxima. E a partir daí ia dando oportunidade a todos os demais que se preparassem e fizessem a pós-graduação. Posteriormente fiz uma viagem aos Estados Unidos, onde fiquei em 1983 e 1984 fazendo pós-doutorado na Columbia University em Nova Iorque, com bolsa da Capes.
Quando nós começamos a organizar o Hospital das Clínicas aqui no Campus universitário, o prédio ainda estava inacabado e tivemos que participar das atividades de conclusão do prédio e da organização total, desde os manuais, os regimentos, a seleção dos equipamentos, compra de material e havia uma série de comissões e subcomissões. Participamos da organização da Unidade de Terapia Intensiva, do Centro Cirúrgico, das Enfermarias e da seleção de pessoal para o novo Hospital das Clínicas aqui no Campus. Quando nós iniciamos, a Enfermagem no Hospital tinha status de serviço e conseguimos que fosse passado de serviço para Divisão de Enfermagem. Hoje a Enfermagem no Hospital das Clínicas é um Departamento. Acredito que essa é a contribuição que pudemos dar em relação ao curso de Enfermagem e ao Hospital das Clínicas.
Após algumas turmas já formadas, começamos a organizar a pós-graduação em Enfermagem. A pós-graduação foi estruturada e organizada e chegou a entrar em funcionamento após minha aposentadoria. Outra atividade que desenvolvemos intensamente foi transformar o Departamento de Enfermagem em Faculdade de Enfermagem, uma unidade autônoma dentro da Universidade. Foi feita uma comissão que deu parecer favorável, este parecer foi aprovado pelo reitor, mas esse fato não foi consumado até o dia de hoje. O curso de Enfermagem continua como um Departamento da Faculdade de Ciências Médicas. Hoje ele teria condições de ser uma Faculdade porque tem um corpo docente altamente qualificado, hoje já com um número grande de Doutores de Mestres, já Livre-Docentes também. Essa foi uma aspiração na nossa época que avançou bastante, mas não chegou a se concretizar totalmente.
Como coordenador do curso de Enfermagem, nós cuidamos de toda a parte de estruturação e reformulação do currículo e também do desenvolvimento da área de pesquisa. Na área de pesquisa é interessante registrar que quando nós entramos e não havia um corpo docente e ele foi improvisado com profissionais graduados apenas. Simultaneamente nós dávamos toda a orientação para os docentes sobre a Metodologia de Pesquisa e as primeiras pesquisas realizadas aqui foram realizadas por mim junto com outros professores. O enfoque que sempre procurei dar as pesquisas foi o enfoque de Direitos Humanos. Uma das primeiras pesquisas que fizemos aqui era a respeito da satisfação dos pacientes atendidos pelo Hospital das Clínicas e verificamos que apesar de todas as dificuldades, era elevado o grau de satisfação em relação à assistência de Enfermagem que eles recebiam aqui.
A Comissão de Instalação do Pronto Socorro do HC era uma das inúmeras comissões de implantação do novo Hospital das Clínicas. Além das demais Comissões, como da UTI, das Enfermarias, do Centro Cirúrgico, fui também membro desta subcomissão de organização do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas. Nós tivemos a oportunidade de colaborar com o treinamento de pessoal, equipamento necessário, em relação à organização de todas as instalações do Pronto Socorro. Essa colaboração nessas diversas comissões se deve a minha qualificação. Tenho curso de pós-graduação em Administração Hospitalar da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Então como Administrador Hospitalar pude contribuir com a organização de diversas unidades.
Concorri como representante dos Professores Titulares e fui membro eleito para o Conselho Universitário pelos colegas de todas as áreas da Universidade, não só da Faculdade de Ciências Médicas. Tive a oportunidade de defender a classe que representava e não somente a classe dos Professores Titulares, como também os interesses do curso de Enfermagem, que tinha uma série de reivindicações que dependiam de deliberações do Conselho Universitário. Isso foi muito bom para o curso de Enfermagem que tinha seu representante no órgão máximo da Universidade.
Acredito que esse convênio era de grande relevância porque era uma fonte de recursos a mais (o Professor foi membro da Comissão de Implantação do Convênio INAMPS com a Unicamp em 1978). A realização desse convênio foi uma forma de ampliarmos nossas fontes de renda do próprio hospital e isso é considerado até hoje uma fonte de renda importante para o Hospital. Do aspecto econômico e financeiro é uma providência muito boa, além de integramos o Hospital Universitário no âmbito do sistema de saúde nacional.
Nos primórdios do Hospital das Clínicas organizamos e dirigimos numerosos concursos para admissão de pessoal. Fizemos concursos para enfermeiros, auxiliares de enfermagem, para atendentes. Organizávamos todos os programas, aplicávamos e corrigíamos as provas. Era uma época em que desenvolvíamos um trabalho polivalente. Isto foi muito importante, porque hoje nós encontramos pessoas que entraram aqui mediante concurso e que se lembram daquele tempo inicial que foi difícil, foi trabalhoso. Hoje nós encontramos colegas que dirigem o hospital, que dirigem unidades importantes e no Departamento de Enfermagem temos professores que foram formados nessa Faculdade, foram alunos nossos, como por exemplo o José Luiz Tatagiba Lamas que foi da primeira turma e hoje é Professor Doutor. E como ele, também poderemos lembrar a Maria Helena Baena de Moraes Lopes que foi nossa aluna. Já fui paciente do Hospital das Clínicas da Unicamp e tive a satisfação de ser atendido por ex-alunos meus que agora são chefes de Unidade. Lembro com saudades de pessoas que não eram da Enfermagem, que eram médicos, professores da Faculdade de Medicina. Lembro-me do Professor Eugênio (Professor Doutor Álvaro Eugênio, como era conhecido, ex-chefe do Departamento de Anestesiologia), já falecido, que foi Superintendente do Hospital das Clínicas. Lembro- me do Professor Manildo Fávero (Primeiro superintendente oficial do HC EM 1978), também já falecido. Trabalharam muito na fase inicial e na fase pregressa do Hospital das Clínicas.
Minha participação na Comissão (Presidente da Comissão de Legislação e Normas do Conselho de Administração do Hospital das Clínicas) se deve a duas razões: Primeiro que sou também Advogado formado pela Universidade de São Paulo desde 1967. Quando vim para a Unicamp já era Advogado e também como Administrador Hospitalar tinha uma contribuição a dar a essa Comissão em termos de organização do regimento do Hospital das Clínicas, do regulamento geral e como o hospital estava em fase de organização era fundamental que ele tivesse esses instrumentos jurídicos, que eram as normas necessárias para seu funcionamento.
Gostaria de aproveitar essa oportunidade e deixar uma mensagem especial aos alunos atuais e aos ex-alunos para que prossigam com uma persistência que é necessária aqueles que querem ser vencedores. Devo dizer que comecei como Atendente de Enfermagem, fui Auxiliar de Enfermagem, fui Enfermeiro Diplomado, fui Diretor de Enfermagem, fui Professor de Enfermagem e cheguei a Professor Titular nessa Universidade, que é uma Universidade de destaque e de renome mundial. Acho que qualquer aluno poderá fazer essa carreira como eu fiz. Deverá se dedicar ao estudo e ao trabalho. Gostaria de deixar uma mensagem de agradecimento a essa Universidade pelas oportunidades que tive de desenvolver minha carreira aqui dentro e também a Faculdade de Ciências Médicas que completa seus 40 anos. Agradeço aos diversos Diretores que por aqui passaram. Desde o professor Pinotti que me admitiu inicialmente, ao professor Magalhães e a todos os demais professores que dirigiram essa Faculdade. Agradeço pelo apoio que deram ao curso de Enfermagem, que foi crescendo e se desenvolvendo graças a e Faculdade de Ciências Médicas, que mesmo tendo um curso de Medicina não deixou de dar apoio ao curso de Enfermagem. Agradeço também aos funcionários que deram todo o apoio ao curso de Enfermagem. Deixo uma mensagem especial às colegas que labutam e que enfrentam as dificuldades da assistência de enfermagem nesse Hospital, parabenizando a todas pelo elevado nível da Enfermagem que é prestado pelo Departamento de Enfermagem do Hospital das Clínicas. Coloco-me à disposição também, agora atuando na área de Direito, para qualquer apoio que possa ser de utilidade do curso de Enfermagem, inclusive com meus trabalhos que ainda mantém a ligação com a área de saúde.
Entrevista concedida a Eduardo Vella

Lacônico

Laconismo é um modo breve ou conciso de falar ou de escrever. Foi uma das principais características da sociedade espartana, na região da Lacônia, de onde deriva o termo. Lacônico significa breve, conciso, de poucas palavras.
A educação militar e prática que recebiam os acostumava a receberem ordens; assim, não falavam muito, e isso também se estendia a suas casas e famílias. E também não desenvolviam o espírito crítico.
Os espartanos, um povo de guerreiros da antiga Grécia, habitaram a Lacônia, antigo país do sul da Grécia, às margens do mar Egeu e do Mediterrâneo, mais especificamente Esparta, sua capital. Segundo Plutarco, por causa do sistema de educação estabelecido por Licurgo, que fazia os espartanos, desde jovens, permanecerem muito tempo em silêncio, os espartanos eram gente de poucas palavras.[1]
Os lacedemônios inventavam histórias sobre eles serem lacônicos: quando Lisandro fez Atenas se render, ao final da Guerra do Peloponeso, ele escreveu para os éforos dizendo "Atenas foi capturada", ao que os éforos responderam que "Bastava escrever 'capturada'"; esta história, porém, é uma invenção, pois a resposta dos éforos foi "Isto é o que as autoridades lacedemônias decidem: que o Pireu e as longas muralhas devem ser destruídas, que Atenas deve abandonar todas as cidades e ficar apenas com seu território; se vocês fizerem isto, terão paz, se quiserem. Sobre o número dos seus navios, o que for decidido, vocês deverão cumprir".[2]
Conta-se que em certa ocasião Filipe II da Macedônia ameaçou invadir suas terras: "Se entro na Lacônia, vou arrasar e submeter Esparta", disse o pai de Alexandro Magno. A resposta dos espartanos passou à história como um exemplo de laconismo: "Se..."[1] Antes, os espartanos haviam provocado Filipe, enviando a mensagem: "Dos espartanos a Filipe: Dionísio em Corinto",[1] uma alusão ao tirano Dionísio II de Siracusa, que terminou seus dias exilado em Corinto. Quando Demétrio Poliorcetes, irritado, gritou "Os espartanos enviaram apenas um mensageiro a mim?", este respondeu tranquilamente "Um para um".[1]
Por essa época surgiu o adjetivo grego 'lakonikós' (espartano, lacedemônio), que passou ao latim como 'laconicus' e chegou a nós como lacônico.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Cultura de massa

A expressão ‘cultura de massa’, posteriormente trocada por ‘indústria cultural’, é aquela criada com um objetivo específico, atingir a massa popular, maioria no interior de uma população, transcendendo, assim, toda e qualquer distinção de natureza social, étnica, etária, sexual ou psíquica. Todo esse conteúdo é disseminado por meio dos veículos de comunicação de massa.
Os filósofos alemães, integrantes da Escola de Frankfurt – Theodor W. Adorno e Max Horkheimer -, foram os responsáveis pela criação do termo ‘Indústria Cultural’. Eles anteviam a forma negativa como a recém-criada mídia seria utilizada durante a Segunda Guerra Mundial. Aliás, eles eram de etnia judia, portanto sofreram dura perseguição dos nazistas e, para fugir deste contexto, partiram para os EUA.
Antes do advento da cultura de massa, havia diversas configurações culturais – a popular, em contraposição à erudita; a nacional, que entretecia a identidade de uma população; a cultura no sentido geral, definida como um conglomerado histórico de valores estéticos e morais; e outras tantas culturas que produziam diversificadas identidades populares.
Mas, com o nascimento do século XX e, com ele, dos novos meios de comunicação, estas modalidades culturais ficaram completamente submergidas sob o domínio da cultura de massa. Veículos como o cinema, o rádio e a televisão, ganharam notório destaque e se dedicaram, em grande parte, a homogeneizar os padrões da cultura.
Como esta cultura é, na verdade, produto de uma atividade econômica estruturada em larga escala, de estatura internacional, hoje global, ela está vinculada, inevitavelmente, ao poderoso capitalismo industrial e financeiro. A serviço deste sistema, ela oprime incessantemente as demais culturas, valorizando tão somente os gostos culturais da massa.
Outro importante pensador contemporâneo, o francês Edgar Morin, define a cultura de massa ou indústria cultural como uma elaboração do complexo industrial, um produto definido, padronizado, pronto para o consumo. Mas, ainda conforme este estudioso, uma industrialização secundária se processa paralelamente, mais sutil e, portanto, mais ardilosa, a da alma humana, pois ela ocorre nos planos imagético e onírico.
Esta cultura é hipnotizante, entorpecente, indutiva. Ela é introjetada no ser humano de tal forma, que se torna quase inevitável o seu consumo, principalmente se a massa não tem o seu olhar e a sua sensibilidade educados de forma apropriada, e o acesso indispensável à multiplicidade cultural e pedagógica. Com este manancial de recursos, é possível criar modalidades de resistência a essa cultura impositiva.
Do contrário, com os apelos desta indústria, personificados principalmente na esfera publicitária, principalmente aquela que se devota sem pudor ao sensacionalismo, é quase impossível resistir aos sabores visuais da avalanche de imagens e símbolos que inundam a mente humana o tempo todo. Este é o motor que move as engrenagens da indústria cultural e aliena as mentalidades despreparadas.

terça-feira, 21 de março de 2017

As Cruzadas

Por  Irany santos
Mestrado em História ( universidad americana 2013)
Graduação em História (Uninilton Lins , 2010)


As Cruzadas foram movimentos militares cristãos em sentido à Terra Santa com a finalidade de ocupá-la e mantê-la sob domínio cristão.
No século VII surgiu no Oriente Médio uma religião também monoteísta que conquistaria muitos adeptos com o passar do século. O Islamismo foi difundido através do profeta Maomé e o seu crescimento criaria grandes embates com o cristianismo. No final do século XI, a religião já havia se tornado grande o suficiente para clamar por seus lugares sagrados, que, no entanto, eram coincidentes com os lugares sagrados dos cristãos. A cidade de Jerusalém é o principal local sagrado para essas duas religiões monoteístas e também para o judaísmo. A ocupação da cidade e das regiões próximas que compõem a chamada Terra Santa foi motivo de muitos conflitos entre essas religiões na Idade Média e ainda é uma das causas da instabilidade no Oriente Médio.
Ilustração: bazzier / Shutterstock.com
Ilustração: bazzier / Shutterstock.com
O termo Cruzadanão era conhecido na época em que ocorreram. Só foi assim nomeado porque seus participantes se consideravam soldados de Cristo e se distinguiam pela cruz em suas roupas. Na época em que ocorreram, eram chamadas de peregrinação ou de guerra santa pelos europeus. No Oriente Médio, contudo, eram chamadas de invasões francas, em função da maioria dos cruzados serem provenientes do Império Carolíngio e de se autodenominarem francos.
O entorno do ano 1000 viu o significativo crescimento das peregrinações de cristãos a Jerusalém, pois eles acreditavam que o fim do mundo estava próximo e, por isso, faziam sacrifícios e buscavam as terras sagradas para evitar a eternidade no inferno. O mundo não acabou e os muçulmanos ocuparam cada vez mais a Terra Santa, criando grandes impedimentos para o trânsito de cristãos. A situação se agravou no decorrer do século XI e irritou os cristãos, que se reuniram para a primeira expedição militar que os levaria à Terra Santa para tentar expulsar os muçulmanos da região e devolvê-la aos cristãos. Entre os anos 1096 e 1270, muitas expedições foram organizadas para tentar reconquistar Jerusalém, porém os muçulmanos se mantiveram firme na região após vários conflitos.
Antes da primeira Cruzada organizada por nobres europeus, houve um movimento extra-oficial que ficou conhecido como Cruzada dos Mendigos ou Cruzada Popular. O monge Pedro reuniu uma multidão que incluía mulheres, velhos e crianças para atuar como guerreiros. A expedição até chegou ao Oriente, mas foi facilmente massacrada. A Primeira Cruzada oficial foi convocada pelo Papa Urbano II, que reuniu a nobreza europeia em 1095 para combater os infiéis que ocupavam a Terra Santa. No ano seguinte, os cruzados partiram para Jerusalém e tiveram sucesso, conquistando a Terra Santa, o principado de Antioquia e os condados de Trípoli e Edessa.
Algumas décadas depois, os muçulmanos conseguiram reconquistar a cidade de Edessa, o que motivou uma nova expedição, a segunda Cruzada, entre os anos 1147 e 1149. No entanto, não causou a mesma comoção da primeira e resultou em uma grave derrota, o que deixou profundo ressentimento no Ocidente. Mais décadas se passaram e, em 1187, o sultão Saladino obteve uma vitória esmagadora sobre os cristãos em Jerusalém, reconquistando a cidade para os muçulmanos. Em resposta, o Papa Gregório VIII convocou uma nova Cruzada, que ficou famosa pela participação de três importantes reis da Europa: Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra; Frederico Barbarossa, do Sacro Império Romano Germânico; e Felipe Augusto, da França. A Terceira Cruzada, que ocorreu entre os anos 1189 e 1192, mais uma vez, não resultou em vitória para os cristãos, mas o rei Ricardo Coração de Leão conseguiu assinar um acordo de paz com Saladino permitindo a peregrinação dos cristãos com segurança até Jerusalém.
No início do século seguinte, nova Cruzada foi convocada para atacar Constantinopla. A expedição ocorrida entre 1202 e 1204 tinha fins políticos que não receberam a aprovação do Papa Inocêncio III. A Quarta Cruzada deixou notáveis consequências política e religiosas porque enfraqueceu o Império Oriental e agravou o ódio entre a cristandade grega e latina. Poucos anos depois, em 1208, o mesmo papa convocou uma Cruzada contra os cátaros no Lanquedoc. O catarismo, doutrina que acreditava no dualismo, ou seja, na existência de um Deus bom e outro mal, era considerado uma heresia e seu crescimento incomodava muito a Igreja Católica. Séculos mais tarde, seus seguidores seriam perseguidos também pela Inquisição.
Um dos eventos mais curiosos envolvendo as Cruzadas certamente foi o de 1212. Na ocasião, crianças e adolescentes que acreditavam estarem possuídas do poder divino para reconquistar Jerusalém partiram em direção aos portos para embarcarem rumo à Palestina. A expedição que ficou conhecida como Cruzada das Crianças vitimou vários dos jovens ainda durante a viagem e os sobreviventes foram vendidos como escravos aos muçulmanos quando atracaram no porto de Alexandria. Calcula-se que 50 mil crianças tenham sido colocadas nos barcos da mais desastrosa das expedições cristãs.
Nova Cruzada oficial ocorreria entre os anos 1217 e 1221. Porém o fracasso não seria novidade. A quinta expedição não conseguiu nem mesmo superar as enchentes do Rio Nilo e acabou desistindo de seus objetivos de tomar uma fortaleza muçulmana no Egito. Poucos anos depois, a Sexta Cruzada, ocorrida entre 1228 e 1229, finalmente alcançou sucesso através da liderança de Frederico II. Este conseguiu obter a posse de Jerusalém, de Belém e de Nazaré para os cristãos por dez anos. No entanto, em 1244 os cristãos perderam o domínio dessas localidades novamente para os muçulmanos.
Entre 1248 e 1254, a Sétima Cruzada foi liderada pelo rei francês Luís IX que desembarcou para combate no Egito e recebeu a oferta de posse de Jerusalém, a qual recusou. Na continuidade dos conflitos, o rei foi aprisionado e seu resgate custou 500 mil moedas de ouro. Mas foi o mesmo rei que comandou a Oitava Cruzada em 1270. Só que ele faleceu devido à peste logo após desembarcar em Túnis, o que encerrou mais uma expedição. Uma Nona Cruzada ainda é descrita por alguns, embora muitos argumentem que tenha sido parte integrante da Oitava Cruzada. Após a morte do rei Luís IX, o príncipe Eduardo da Inglaterra teria comandado seus seguidores até o Acre (cidade em Israel) para combater os adversários nos dois anos seguintes. Mas, preparando-se para atacar Jerusalém, recebeu a notícia do falecimento de seu pai e decidiu retornar à Inglaterra para herdar seu trono de direito, encerrando a expedição e o turbulento século XIII.
As Cruzadas foram um fracasso em seu objetivo de conquistar a Terra Santa para os cristãos. Custaram muito caro para a nobreza europeia e resultaram em milhares de mortes. No entanto, essas expedições influenciaram grandes transformações no mundo medieval. Elas causaram o enfraquecimento da aristocracia feudal, fortaleceram o poder real e possibilitaram a expansão do mercado. A civilização oriental contribuiu muito para o enriquecimento cultural europeu, promovendo desenvolvimento intelectual. Nunca mais Jerusalém foi dominada pelos cristãos, mas as movimentações ocorridas no trajeto para a Terra Santa expandiram os relacionamentos com o mundo conhecido na época.
Fontes:http://www.youtube.com/watch?v=kBol2p_S1F4MAALOUF, Amin. As Cruzadas vistas pelos árabes. São Paulo: Brasiliense, 2001.
WILLIAMS, Paul. O guia completo das cruzadas. São Paulo: Madras, 2007.

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quinta-feira, 16 de março de 2017

os principais Deuses gregos


Quais são os principais deuses gregos?

Confira quais são as principais divindades dessa mitologia que inspirou diversas obras da cultura pop

Deuses gregos abre
Confira abaixo quais são as principais divindades dessa mitologia que inspirou diversas obras da cultura pop.
Poseidon Hades Hera
POSÊIDON
O irmão mais velho de Zeus e Hades é o deus do mar. Com um movimento de seu tridente, causa tempestades e terremotos – e sua fúria é famosa entre os deuses! Posêidon vive procurando aumentar seus domínios em diferentes áreas da Grécia
HADES
Mesmo sendo irmão de Zeus e Posêidon, não vive no monte Olimpo. Hades, como deus dos mortos, domina seu próprio território (ver O mundo dos mortos). Apesar de passar uma imagem ruim por sua “função”, não é um deus associado ao mal
HERA
Terceira mulher de Zeus e rainha do Olimpo, Hera é a deusa do matrimônio e do parto. É vingativa com as amantes do marido e com os filhos de Zeus que elas geram. Para os gregos, Hera e Zeus simbolizam a união homem-mulher
Zeus Hefesto Afrodite
ZEUS
O filho mais novo de Cronos e Réia (ver Início titânico) é o líder dos deuses que vivem no monte Olimpo. Ele impõe a justiça e a ordem lançando relâmpagos construídos pelos ciclopes. Zeus teve diversas esposas e casos com deusas, ninfas e humanas
AFRODITE
O nome da deusa do amor significa “nascida da espuma”, porque diziam que ela havia surgido do mar. Afrodite é a mais bela das deusas. Apesar de ser esposa de Hefesto, teve vários casos – com deuses como Ares e Hermes e também com mortais
HEFESTO
Filho de Zeus e Hera, Hefesto nasceu tão fraco e feio que foi jogado pela mãe no oceano. Resgatado por ninfas, virou um famoso artesão. Impressionados com o talento dele, os deuses levaram Hefesto ao Olimpo e o nomearam deus do fogo e da forja
Apolo Ares Artemis
APOLO
O deus da luz (representada pelo Sol), das artes, da medicina e da música é filho de Zeus com uma titã, Leto. Na juventude, era vingativo, mas depois se tornou um deus mais calmo, usando os poderes para cura, música e previsões do futuro
ARES
O terrível deus da guerra é outro filho de Zeus e Hera. No campo de batalha pode matar um mortal apenas com seu grito de guerra! Pai de vários heróis – humanos que são protegidos ou filhos de deuses -, Ares ainda se tornou um dos amantes de Afrodite
ARTEMIS
Irmã gêmea de Apolo, é a deusa da caça, representada por uma mulher com um arco – contraditoriamente, também é a protetora dos animais… Artemis é uma deusa casta (virgem), que fica furiosa quando se sente ameaçada
Hermes Atena
HERMES
Filho de Zeus com a deusa Maia, o mensageiro dos deuses é o protetor de viajantes e mercadores. Representado como um homem de sandálias com asas, Hermes tinha um lado obscuro: às vezes trazia mentiras e falsas histórias
ATENA
É a deusa da sabedoria e filha de Zeus com a primeira mulher dele, Métis. Seu símbolo é a mais sábia das aves, a coruja. Habilidosa e especialista nas artes e na guerra, Atena carrega uma lança e um escudo chamado Égide
INÍCIO TITÂNICO
Mundo surgiu graças ao titã Cronus, depois derrotado por Zeus
História grega 1 História grega 2
O mundo mitológico grego tem início com o casal Urano e Gaia. Urano (o céu) permanecia unido a Gaia (a terra) em um ato de reprodução constante. Dessa união nasceram os titãs, que não conseguiam sair do ventre de Gaia. Infeliz com os filhos aprisionados, Gaia ajudou um deles, Cronus, a castrar o pai. Com isso, Urano se separou de Gaia, uma metáfora que simboliza o surgimento do mundo após a separação entre o céu e a terra
História grega 3
Cronus passou a reinar, mas, com medo de perder o poder, engolia os filhos que tinha com a titã Réia. Um deles, Zeus, escapou desse destino e resgatou os irmãos. Zeus derrotou Cronus em uma grande batalha, que deu início à era dos deuses
O MUNDO DOS MORTOS
Território de Hades tem regiões celestiais e infernais
Na mitologia, a alma dos mortos vai para o mundo subterrâneo, governado por Hades. Para entrar, é preciso pagar o barqueiro Caronte, que faz a travessia do rio Estige. Por isso os gregos enterravam os mortos com uma moeda. No submundo de Hades, o morto é julgado por três juízes. Os que viveram uma vida correta são premiados e seguem para uma região chamada Campos Elíseos, uma espécie de paraíso, cheio de paisagens verdes e floridas.
Mas o mundo subterrâneo também tem regiões sombrias… Os gregos que “aprontaram” na vida como mortal têm como destino o Tártaro. Equivalente ao inferno cristão, ele é um poço profundo, quase sem fim, escuro, úmido e frio.
MEZZA GREGA, MEZZA ROMANA
Confira o nome romano desses mesmos deuses
Zeus = Júpiter
Hera = Juno
Hades = Plutão
Posêidon = Netuno
Atena = Minerva
Hermes = Mercúrio
Apolo = Apolo
Artemis = Diana
Hefesto = Vulcano
Afrodite = Vênus
Ares = Marte

Quais são os principais deuses egípcios?

Você já deve ter ouvido falar em Rá e Osíris, mas e quanto a Bastet e Thoth? Conheça os principais nomes do panteão

ILUSTRAS: Jean Magalhães
Você já deve ter ouvido falar em Rá e Osíris, mas e quanto a Bastet e Thoth? Conheça os principais nomes do panteão.
Set Rá-Atum
SET
O deus do caos é o responsável pelas guerras e pela escuridão. Matou o irmão, Osíris, mas perdeu a supremacia do Egito para o sobrinho Hórus. Tem a forma do porco-formigueiro – animal raro da África.
RÁ-ATUM
Principal deus egípcio, Rá é o responsável pela criação do mundo e representa o Sol. Ele é descrito de diversas formas, desde com a face de uma ave de rapina até como um escaravelho. Os egípcios acreditavam que seu rei (o faraó) era a encarnação de Rá.
Ísis Osíris Nephthys
ÍSIS
Dona de poderes mágicos, protetora e piedosa, a irmã-esposa de Osíris era muito popular – foi a última divindade egípcia a ser adorada na Europa antes da chegada do cristianismo. O rio Nilo nasceu das lágrimas que ela derramou quando Osíris morreu.
OSÍRIS
Descendente direto de Rá (o deus da criação), Osíris é o filho mais velho do casal Geb e Nut. Ele reinou sobre a Terra como o primeiro faraó do Egito. Isso até ser assassinado por seu irmão Set. A partir daí, Osíris virou o deus supremo e o juiz do mundo dos mortos.
NEPHTHYS
No vale-tudo da mitologia, foi irmã-esposa de Set e de Osíris. Após a morte deste, separou-se de Set e se juntou a sua irmã Ísis em luto. É associada ao culto dos mortos e mostrada às vezes como uma mulher ao lado de sarcófagos.
Hórus Hathor Anubis
HÓRUS
Filho de Osíris e Ísis, tem cabeça de falcão e é o protetor dos faraós e das famílias. Quando perdeu o pai, lutou contra Set pelo trono de principal deus do Egito. Após intervenção de Osíris, direto do “Além”, os demais deuses aclamaram Hórus como líder supremo.
HATHOR
A esposa de Hórus é a deusa guardiã das mulheres (especialmente as grávidas) e protetora dos amantes. No Egito antigo, a vaca era considerada um animal gentil, por isso Hathor era representada com a cabeça ou as orelhas de uma vaca.
ANÚBIS
O deus com cabeça de chacal nasceu da união de Osíris e Nephthys. Foi ele quem criou a primeira múmia, ao preparar o corpo do pai assassinado. Tem papel importante na passagem para o mundo dos mortos.
Bastet Sekhmeth Thot
BASTET
Ligada à fertilidade, é a deusa da sexualidade e do parto. Após o ano 1000 a.C., sua imagem ganhou a forma de gato – animal que para os egípcios traz boa sorte. É mais uma das filhas de Rá.
SEKHMETH
A poderosa deusa com cabeça de leoa é filha de Ra, mas reflete o aspecto destrutivo do Sol. Foi enviada por Rá para punir os humanos que passaram a adorar um deus em forma de serpente.
THOTH
Sua origem é polêmica: alguns textos o apresentam como filho de Rá, outros, como de Set. Com cabeça de uma ave – a íbis – é o deus da Lua, da sabedoria e da cura. É o patrono dos escribas e trouxe os hieróglifos ao Egito.
O MITO DA CRIAÇÃO
Separação de deuses irmãos marca origem do mundo dos humanos
mito Criação Egípcios
1. Os primeiros filhos de Rá foram Shu (deus do ar) e Tefnut (deusa da umidade). Como é comum nessa mitologia, os irmãos formaram um casal e tiveram como filhos Geb (deus da terra) e Nut (deusa dos céus). Ao nascer, os netos de Rá se juntaram num abraço, formando outro casal.
2. Rá não gostou muito dessa história e ordenou a Shu que ele separasse os filhos. Este empurrou Nut para cima e pressionou Geb para baixo. Enquanto Nut se tornava o céu que cobre o mundo, Geb virou a terra em que vivemos. E Shu permaneceu entre os filhos, representando o ar que as pessoas respiram.
JULGAMENTO FINAL
O “inferno” para os egípcios era ser devorado por um deus após a morte
julgamento egípcio
1. Toda pessoa ao morrer era recebida pelo deus Anúbis. Ele tinha a missão de pesar o coração dos mortos em uma balança, uma espécie de avaliação de como a pessoa havia se comportado em vida.
2. Após ter o coração pesado, o morto era encaminhado para um julgamento final perante Osíris, que o questionava sobre diversas passagens da vida. Nessa conversa, Osíris podia até aliviar a barra de quem tivesse o coração “reprovado na balança”.
3. Os aprovados viveriam para sempre em um paraíso similar à Terra na companhia dos deuses. Os reprovados eram devorados por Amnut, deusa representada pelos três animais mais temidos no Egito: ela tinha cabeça de crocodilo e corpo com partes de leão e de hipopótamo.