domingo, 13 de agosto de 2017

Revoltas na república (fazer resumo de 60 linhas)

Religiosidade e revoltas populares

A palavra messianismo é derivada de Messias, que significa “o enviado de Deus”, “o salvador”.
Na religião judaica, o messianismo está ligado à crença na vinda do Messias, libertador dos judeus. Estes consideram que o Messias acabará com todo o sofrimento e os levará à felicidade eterna. Para os judeus, Deus ainda não enviou o Messias ao mundo.
Já para os cristãos, o Messias é Jesus Cristo, que veio à Terra indicar o caminho da salvação eterna.
Baseados nas crenças judaicas e cristãs, estudiosos e historiadores usam o termo messianismo para explicar a crença popular em um líder político e religioso: o líder messiânico. Homem ou mulher, esse líder é considerado capaz de levar seus seguidores a alcançar a justiça e a felicidade. Geralmente, a crença messiânica está ligada à esperança de uma vida melhor para aqueles que sofrem as injustiças sociais no cotidiano.
Primeira RepúblicaNa história do Brasil, o termo messianismo é usado para se referir às revoltas populares em que milhares de sertanejos formaram comunidades comandadas por um líder revestido de aspectos religiosos. Eles acreditavam que seu líder tinha dons especiais, como o de fazer milagres e curas, além de prescrever condutas corretas e até mesmo prever acontecimentos futuros.
Os principais movimentos messiânicos brasileiros surgiram em áreas rurais pobres e tinham como características a religiosidade popular e o sentimento de revolta. Na Primeira República, os dois movimentos messiânicos mais conhecidos ocorreram em Canudos (na Bahia) e no Contestado (área entre Santa Catarina e Paraná).

As Revoltas da República Velha

As principais revoltas durante o período da velha república foram:

Guerra de Canudos (1893-1897)

Guerra de CanudosNo final do século XIX, milhares de moradores do Nordeste enfrentavam sérios problemas. No litoral, a terra estava concentrada nas mãos de poucos e a produção de açúcar diminuía. No sertão, as secas eram periódicas e arrasadoras. Após a proclamação da República, as atitudes dos coronéis (retome o capítulo 2) e a exclusão popular nos novos rumos políticos do país agravavam o quadro. O cenário social era de opressão, falta de esperança e omissão do governo no cumprimento de seu papel em relação aos cidadãos.
Nesse contexto, destacou-se a figura de Antônio Vicente Mendes Maciel (1828-1897), mais conhecido como Antônio Conselheiro, que começou a fazer pregações políticas e religiosas em localidades do sertão nordestino.
Em 1893, aos 65 anos, Conselheiro chegou a uma fazenda abandonada às margens do rio Vaza-Barris, no interior baiano. Naquela área, liderou a formação do povoado de Belo Monte, depois chamado de Canudos. Desde 1870, atraía muitos sertanejos com suas pregações, das quais um dos lemas era: “A terra não tem dono, a terra é de todos”.
Milhares de pessoas mudaram-se para Canudos, entre elas sertanejos sem terras, vaqueiros sem trabalho, ex-escravos, pequenos proprietários pobres, homens e mulheres perseguidos por coronéis ou pela polícia. A maioria dessas pessoas buscava abrigo, paz e justiça em meio à fome e à seca.
Assim, em pouco tempo, Canudos se tornou uma das localidades mais populosas da Bahia, reunindo de 20 mil a 30 mil habitantes. Há estudos informando que a comunidade repartia as colheitas, os rebanhos e outros frutos do trabalho entre seus membros. O que restava era vendido ou trocado com os povoados vizinhos. Não se cobravam impostos e eram proibidas a prostituição e a venda de bebidas alcoólicas.
Em Canudos, os moradores obedeciam a normas próprias, diferentes das de outros lugares do país. A comunidade representava uma espécie de refúgio para os que tentavam escapar do domínio dos coronéis.
A existência de uma opção ao poder tradicional, porém, não agradava a todos, principalmente aos mais poderosos da região. Fazendeiros baianos e a elite política estadual temiam o crescimento de Canudos.
Os adversários da comunidade de Canudos diziam que ali viviam fanáticos e monarquistas. Durante muito tempo, não se considerou que um dos principais motivos de união dos sertanejos era a necessidade de sobreviver à fome e à violência. O messianismo foi a maneira encontrada por eles para construir uma sociedade que lhes parecia mais justa.
Igreja de canudos
As tropas dos coronéis locais e do governo estadual baiano não conseguiram esmagar de imediato as forças de Canudos. Foi então que o governo federal entrou na luta, enviando tropas do Exército para combater os moradores da localidade. Mesmo assim, as forças de Canudos chegaram a derrotar duas expedições armadas organizadas pelo governo baianio. A terceira expedição, também derrotada, era formada pelo Exército brasileiro.
Finalmente, cerca de 8 mil a 10 mil homens foram reunidos sob o comando do próprio ministro da Guerra e destruíram Canudos, em 5 de outubro de 1897. A grande maioria dos sertanejos morreu defendendo sua comunidade, numa das lutas mais trágicas da história da República.

Guerra do Contestado (1912-1916)

Outro importante movimento messiânico ocorreu na divisa entre Paraná e Santa Catarina, numa região contestada (disputada) pelos dois estados.Vem daí o nome do movimento: Contestado.
Nessa área, viviam milhares de sertanejos sem-terra, que trabalhavam para os fazendeiros locais sob condições bastante difíceis. Muitos sertanejos trabalhavam também para duas empresas estadunidenses ali estabelecidas: a Southern Brazil Lumber and Colonization, de colonização e exploração de madeira, e a Brazil Railway, uma companhia de estradas de ferro.
Os problemas sociais e a disputa pela terra se agravaram quando a Brazil Railway passou a contratar, em troca de salários muito baixos, pessoas de outras localidades para construir a ferrovia que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul.
Assim que as obras acabaram, em 1910, cerca de 8 mil trabalhadores perderam seus empregos. Como esses homens e suas famílias não tinham como voltar para suas terras de origem, eles continuaram a viver na região — muitos participavam de invasões de terras, outros se ofereciam como jagunços aos coronéis locais. Tudo isso aumentou ainda mais a tensão social que já era grande naquela região. Enquanto os governos do Paraná e de Santa Catarina não resolviam suas disputas territoriais, a população continuava vivendo em situação de abandono.
Assim, os sertanejos do Contestado começaram a se organizar sob o comando de um líder religioso conhecido como monge João Maria. Após sua morte, seu lugar foi ocupado pelo monge Miguel Lucena Boaventura, conhe-;ido como José Maria. Ele reuniu mais de 20 mil pessoas e, juntos, fundaram alguns povoados que compunham a Monarquia Celeste.
Assim como em Canudos, a “monarquia” do Contestado tinha um governo próprio, normas igualitárias e não obedecia às autoridades da República. Os moradores do Contestado também foram perseguidos pela polícia, pelos coronéis-fazen-deiros e pelos donos das empresas estrangeiras, com o apoio das tropas do governo federal. O objetivo da repressão era destruir a organização comunitária e expulsar os sertanejos das terras que ocupavam.
Em novembro de 1912, José Maria foi morto em combate. Passou a ser considerado santo pelos moradores da região. Posteriormente, seus seguidores criaram novos núcleos da Monarquia Celeste, que também foram combatidos pelas tropas do Exército brasileiro. Os últimos núcleos foram destruídos por 7 mil homens armados de canhões, metralhadoras e aviões de bombardeio, usados pela primeira vez como arma de combate no Brasil em 1916.

Cangaço no Nordeste

Na região semiárida nordestina, as injustiças cometidas pelos coronéis fazendeiros e a ausência de serviços públicos, associadas à fome e às secas, propiciaram a formação de grupos que, muitas vezes, praticavam crimes como assassinatos e assaltos a fazendas e
Cangaço no nordesteOs membros desses grupos eram chamados de cangaceiros. Essa expressão era usada no interior nordestino desde a primeira metade do século XIX para designar grupos de homens que andavam armados. Eles carregavam suas armas atravessadas sobre os ombros, do mesmo jeito que as cangas eram colocadas sobre os bois para puxar um arado. Essa é a origem mais provável do termo “cangaceiro”. O tipo de vida levado por esses homens foi denominado cangaço.
Entre os grupos de cangaceiros mais importantes destacaram-se o de Antônio Silvino (1875-1944) e o de Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião (cerca de 1900-1938).
Depois que a polícia massacrou o bando de Lampião, em 1938, o cangaço declinou rapidamente, até desaparecer.

Mobilizações populares na capital da República

Além dos movimentos messiânicos e do cangaço, outras mobilizações populares aconteceram em diferentes regiões do Brasil. Algumas tomaram forma na capital federal, na primeira metade do século XX. Entre essas mobilizações estão a Revolta da Vacina, a Revolta da Chibata e o Tenentismo, que estudaremos a seguir.

Revolta da Vacina

No governo de Rodrigues Alves (1902-1906), a população do Rio de Janeiro — na época, a maior cidade do país — enfrentava graves problemas. Além da pobreza e do desemprego, havia também epidemias de febre amarela, peste bubônica e varíola, que levavam milhares de pessoas à morte.
Desde os primeiros governos republicanos, desejava-se transformar o Rio de Janeiro na “capital do progresso”. Naquela concepção, a cidade seria uma espécie de cartão-postal que mostraria ao país e ao mundo uma imagem da República como um regime moderno. A decisão de realizar obras para “modernizar” a cidade coube a Rodrigues Alves.
Essas obras foram comandadas pelo prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Francisco Pereira Passos (1836-1913). Entre elas estavam o alargamento das principais ruas do centro, a construção da Avenida Central (atual Rio Branco), a ampliação da rede de abastecimento de água e esgotos, a remodelação do porto etc. Além disso, muitos cortiços e casebres dos bairros centrais foram demolidos. A demolição acabou por desalojar os moradores desses locais, que passaram a viver em barracos nos morros do centro ou em bairros do subúrbio.
Um dos principais objetivos da reforma da capital era combater as epidemias locais. O médico sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917), diretor da Saúde Pública, convenceu o presidente a aplicar uma lei que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola.
Porém, a população não foi esclarecida sobre a necessidade e a importância dessa vacinação. Membros de diversos setores da sociedade reagiram à obrigatoriedade, defendendo que a aplicação de injeções em mulheres era imoral e que essa lei contrariava a liberdade individual. Havia também os que não compreendiam o funcionamento da vacina e os princípios de imunização.
Oswaldo CruzO descontentamento daqueles que tinham sido afetados pela demolição de suas casas (os cortiços), bem como a impopularidade do governo e a obrigatoriedade da vacinação contribuíram para desencadear uma revolta popular, que tomou conta das ruas cariocas entre 10 e 16 de novembro de 1904.
Políticos e militares de oposição aproveitaram a revolta para tentar derrubar o presidente, mas não conseguiram. O governo dominou o movimento recorrendo às tropas do corpo de bombeiros e da cavalaria. Cerca de 30 pessoas morreram e mais de 100 foram feridas. Centenas de participantes nos conflitos foram presos e deportados para o Acre, que acabara de ser incorporado ao território brasileiro. Muitos deportados trabalharam na construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, em área do atual estado de Rondônia, que ligou as cidades de Porto Velho e Guajará-Mirim.
Aliás, o próprio alistamento militar era muitas vezes visto como uma forma de castigo para pobres sem emprego, considerados “vadios” pela legislação desde o Império. Por outro lado, o ingresso nas forças armadas também podia representar uma possibilidade de ascensão social para alguns brasileiros, especialmente pobres e ex escravos, constantemente perseguidos pela polícia, por preconceito.
Em novembro de 1910, durante o governo de Hermes da Fonseca, teve início mais uma revolta na Marinha, dessa vez envolvendo cerca de 2 mil homens, organizados na cidade do Rio de Janeiro. Eles se rebelaram contra os castigos físicos impostos pelos oficiais. O grupo era liderado pelo marinheiro João Cândido.
Enouraçado Minas GeraisPrimeiro, os revoltosos tomaram o comando do encouraçado Minas Gerais. Depois, outros marujos assumiram o controle dos navios São Paulo, Bahia Deodoro. Alguns oficiais foram mortos no processo.
Após tomarem os navios, os marinheiros apontaram seus canhões para a capital e enviaram um comunicado ao presidente da República explicando as razões da revolta e fazendo exigências. Além de pedirem mudanças no código de disciplina da Marinha por causa dos castigos físicos que sofriam, reclamavam da má alimentação e dos soidos (salários dos militares) miseráveis.
Sob a mira dos canhões, os governantes não tiveram outra alternativa: responderam que atenderiam a todas as exigências dos marinheiros. Rapidamente, os deputados aprovaram um projeto acabando com as chibatadas e anistiando os revoltosos.
Dessa forma, os marinheiros entregaram os navios aos comandantes. Mas o governo não cumpriu as promessas nem a anistia. Além disso, expulsou diversos marinheiros e mandou prender alguns líderes do movimento.
No dia 9 de dezembro, os marujos iniciaram outra rebelião. Dessa vez, porém, o governo reagiu com mais violência. Dezenas de marinheiros foram mortos, centenas foram presos e encaminhados para a Amazônia e mais de mil foram expulsos da Marinha.
Preso na ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, João Cândido foi julgado e absolvido em 1912. Na memória popular, ele é celebrado como o Almirante Negro, que acabou com as chibatadas na Marinha do Brasil. João Cândido e os outros marinheiros, muitos deles também negros, combateram a injustiça dos castigos físicos que ainda sofriam, mesmo após o fim da escravidão, em 1888.
Veja também o Movimento Tenentista, revolta que aconteceu durante o período da república velha.

Um comentário:

  1. Compreendi melhor o conteúdo relacionado os conflitos que ocorreram na primeira republica,obrigada.🤠

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